A Igreja - Imagens e História

A Igreja Paroquial de Santo André de Canidelo 

Canidelo não é rica em monumentos de valia, quer por falta de recursos dos habitantes, quer pelo camartelo do progresso, destruidor de belezas natu­rais e de edifícios históricos.

A sua Igreja, é singela, harmoniosa, de linhas simples, mas valiosa no seu espólio imaginário, com imagens do séc. XVII, em madeira, como o Pa­droeiro, Santo André.

O seu inicio deve ter sido uma pequena ermida, ligada à Quinta, futuro Paço, construída por volta dos meados do século XII-1124?


Foi sendo ampliada, à medida do aumento populacional, muito diminuto nesse tempo - algumas vilas agrárias e piscatórias -.

No século XVIII - 1739, como lemos na porta principal (ANNO DO­MINI MDCCXXXIX) - sofreu um aumento mais volumoso, adaptada aos seus 156 fogos - umas quatro a cinco centenas de habitantes, mas sem pen­sar no futuro.

Há uma escritura sobre este aumento, segundo descoberta do erudito Conde de Campo Belo, lavrada em 19 de Março de 1739, em casa de António Mendes e Matos, tabelião do Porto, entre Tomé Gonçalves, Juiz da Confraria do Santíssimo da freguesia de Canidelo, acompanhado pelos mesários Antó­nio Fernandes, o alferes Manuel da Costa Passos, Martinho Domingues da Cruz, José Gonçalves e Roque de Barros, de um lado e, pelo outro, António Pereira, mestre pedreiro da Rua Direita da freguesia de Santo Ildefonso e Caetano de Sousa Teixeira, morador na Rua do Reimão, Joaquim Simões Lopes, mestre pedreiro da Rua do Bonjardim, de Manuel Francisco, mestre carpintei­ro, do lugar de Fradelos.

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Os termos da escritura obrigavam o António Pereira, associado ao cole­ga Caetano de Sousa Pereira, a terminar a obra de pedraria até ao fim de Agos­to desse ano, com uma tolerância de apenas 15 dias, pelo preço de duzentos e seis mil reis - 206$000 reis -.

Alguns altares laterais - 3 ou 4 - são recentes e sem a talha nobre do mor e dos dois laterais, unidos ao contraforte do arco cruzeiro, também reco­berto de boa talha, mas desfeiado pela pintura que lhe retirou a beleza do granito.

A Torre Sineira é do início do séc. XX, em substituição da que se erguia no outro ângulo e à qual se subia por uma escada interior que dava acesso ao coro e deste à torre. O sino grande tem a data de 1970; o de Sto. António e Almas, a de 1878 e o relógio, a de 1889.

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Também a capela-mor foi ampliada e os anexos - casa mortuária, sacristi­as e anexos superiores são recentes e substituíram os anteriores. A escadaria que leva às salas de cima era por dentro de uma das sacristias e, há pouco tempo, foi feita uma exterior.

Nos dois últimos anos, as sacristias e o átrio foram renovados, assim como as salas superiores, o que as torna mais acolhedoras.

A Igreja é formada por uma única Nave (corpo da igreja), com cerca de 198 m2 e pela capela-mor, com aproximadamente 91 m2, separadas pelo Arco Cruzeiro.

No altar da capela-mor, há um painel de arte popular, obra já deste sécu­lo, do artista nortenho, Guilherme Ferreira Thedim, de Santa Cruz do Bispo, Matosinhos, que, segundo me informaram, substituiu um mais antigo, destruído pela humidade e cujo motivo era o mesmo: a Ressurreição de Jesus, este um Cristo em ascensão, a sair do túmulo e a deixar os soldados, que o guarda­vam, em pavor. Dois Anjos encimam a talha.

O sacrário é recente e o altar é de talha dourada, simples e, provavelmen­te do séc. XVIII. Duas imagens, em madeira - séc. XVII-XVIII - o orna­mentam: Santo André, o padroeiro, cerca de 80 cm.-, do lado esquerdo, e Santa Luzia - cerca de 70 cm. - do lado direito.

Quatro castiçais em talha dourada, do séc. XVIII dão vida a este belo altar.

O Arco Cruzeiro, de granito lavrado foi pintado, tirando-lhe a valia forte da pedra; encerra, no lado da nave, uma riqueza de talha e imaginário, com dois famosos anjos a encimá-la, nos lados de uma tela, com um Cristo Cruci­ficado, no Calvário, e sua Mãe e a outra Maria, de olhares doridos, em con­templação. Há quem afirme ser um pedaço do anterior painel do altar-mor; na nossa opinião, todavia, uma pintura apropriada àquele pequeno espaço.

O altar do lado direito é de boa talha - certamente do séc. XVIII - e emolduram-no várias imagens de madeira, provavelmente do período do últi­mo restauro da Igreja: um Santo António sentado num trono - o que é pouco comum - e com o Menino ao colo; e na base, almas em súplica e anjos, um S. João Baptista, um S. Gonçalo, um Santo Amaro e um S. Judas Tadeu. Um relicário dourado realça a sua parte inferior.

O altar do lado esquerdo , idêntico ao anterior, é também repositório de imagens de valor: uma Santa Ana, com Nossa Senhora e o Menino; Nossas Senhoras do Rosário e da Conceição; S. José, com a flor de Jessé; um Menino Jesus, vestido de túnica; uma Nossa Senhora das Graças.

Os seguintes da direita são dedicados a Nossa Senhora de Fátima - imagem deste século e em madeira e ao Sagrado Coração de Jesus - ima­gem grande e em madeira - do final do séc. XIX, respectivamente.

Os seguintes do lado esquerdo, são dedicados ao Senhor da Boa Morte - um expressivo Crucifixo -, acompanhado da Senhora das Dores, e a S. Vicente Ferrer - imagem pequena, mas antiga -; neste último, há ainda as imagens valiosas de S. Vicente de Paula, S. Brás e Santa Eufémia.

A Pia Baptismal é singela, mas significativa, como bem colocada.

O Coro Alto é proporcional ao corpo da Igreja e singelo.

São dignas de nota algumas peças, como a cadeira paroquial, alguns móveis de uma das sacristias e ainda os azulejos recentes que ornamentam as paredes da Igreja.

A par da beleza e da riqueza do imaginário da Matriz de Canidelo, não temos que olvidar o valioso espólio composto por várias peças de prata e oiro, destinadas ao culto.

Sem data, a magnífica Custódia, em prata cinzelada e relicário dourado, com as suas campainhas e orná-la, parece ser obra do séc. XVI.

Das 16 Cruzes processionais, 5 são de boa prata ; uma destas tem a data de 1895, outra a de 1925; três eram da Confraria de S. António e das Almas; as outras da de N. S. do Rosário, sendo as 11 restantes de metal.

Há 11 varas de prata e uma de metal e só três tem data - 1919 , 1928, 1934; servem para o juiz e os membros dirigentes das irmandades levarem nas procissões e são símbolo de mando.

Das quatro salvas de prata só duas estão datadas - 1933 e 1961.

Uma valiosa lavanda de prata, com prato e gomil, tem a data de 5.6.1910 e serve para os baptismos solenes e para as visitas pastorais, na altura do lavabo.

Das dezoito caldeirinhas existentes, uma é de prata.

Tem valor e beleza o turíbulo e a naveta de prata, certamente do tempo da restauração da Igreja; há mais outro de metal.

São quatro as coroas de prata; há sete esplendores de prata, quatro casti­çais (serpentinas) de prata; várias serpentinas dc metal; quatro jarras de prata.

Os cálices - 4 - tem antiguidades e valias diversas; um mais antigo, de copa alta; outro moderno, a servir no Salão Paroquial, é singelo; um, a servir aos domingos, é de prata lavrada, com motivos litúrgicos; o que foi comprado em 1993, é uma formosa peça, de prata lavrada e copa dourada, com valor e beleza; há seis patenas da comunhão e as respectivas dos cálices.

Dos sete cibórios, dois são de prata e os restantes de metal.

Das alfaias do culto, a maioria de data recente, o maior realce é para o Pálio de lhama dourada, peça valiosa, talvez do século XVII-XVIII; merecem relevo três capas de asperges e ainda as varas de metal cromado que servem ao pálio.

As pias de água benta são de granito trabalhado e do tempo das obras de renovação da Igreja.

O relógio da Torre foi oferta do grande Amigo da Paróquia, Manuel Marques Gomes, nos anos 20; há pouco tempo foi reparado.